Entre as tantas deficiências e lacunas que se assomam sobre o meu processo de escrita, certamente está a minha pequena lista de grandes escritores lidos, suas obras clássicas e importantes. Li muito pouco desses escritores que saltam aos lábios e memórias de escritores e leitores em suas lives, entrevistas, bate-papos.
Leio devagar. Tenho o péssimo hábito de ler 4 ou 5 livros ao mesmo tempo. Então, acabo não lendo nenhum.
Um livro de quase mil páginas me acompanha por um ano inteiro. Não me importo em conhecer o final da história quando a escrita me traz prazer. Um texto bem escrito, que alcança as emoções, alcança o tato dos pensamentos e angústias, sempre traz deleite e uma dose de acalento ao meu "eu" interior.
Hoje, em uma livraria, um livro chamou a minha atenção: O Perfume das Flores, de Leila Slimani. Escritora francesa.
Só li o primeiro capítulo. Ela fala de sua experiência como escritora. Parece que virá uma história também. Mas, a forma como ela escreve e descreve o processo da escrita, o chamado do escritor, isso me atraiu.
Como, por exemplo, do sofrimento do escritor quando não consegue escrever, quando a escrita trava em dado momento. Ela cita a experiência de Tolstói ao escrever Ana Kariênina. De repente, parou de enviar os manuscritos ao seu editor. Este, preocupado com o atraso na publicação, viajou até a casa de Liev. Quando lhe perguntou sobre a obra, Tolstói respondeu: "Anna Kariênina foi embora. Estou esperando que ela volte".
Eu consigo escrever apenas aos finais de semana. E, nem sempre acabo realmente escrevendo, por mais que me planeje. Então, é uma luta me manter conectado com meus personagens. É muito fácil eles se cansarem de esperar por mim e irem embora. Muitas vezes, ao escrever, cadê a voz daquele personagem? Às vezes o processo do reencontro demora um tempo. O tempo que eu teria para escrever.
Isso me leva ao grande receio de estar escrevendo uma história sem coesão. Sem o ritmo que agrade ao leitor. Sem a coesão e o ritmo que permitam ao personagem desfilar.
Amanhã é domingo. É dia de escrever. Tenho um encontro com meus personagens. Espero que estejam todos prontos, ensaiados e com disposição para encarar a cena que preparei para amanhã.
E que possam esperar o momento em que eu digite neste computador: ação!
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