Quando eu procuro a minha mais antiga lembrança, o que eu encontro no fundo da memória é minha mãe pedindo para eu buscar os ovos no galinheiro. No fundo de casa ainda não existia o salão que meu pai construiu. Eu devia ter uns cinco anos de idade e me lembro que para pegar os ovos eu passava por um pomar, com pés de laranja, pés de limão, brotos de mandioca saindo pela terra.
Achava tudo bonito, ainda me lembro passando e me agachando pelos galhos das árvores, pisando no chão e abrindo a portinhola do galinheiro. Não sei como eu recolhia os ovos, porque mal consigo pegar ovos no supermercado, quanto mais no galinheiro.
Muitos anos se passaram e hoje eu penso que o tempo todo na vida eu estive buscando os ovos no galinheiro. Fiz de limões algumas limonadas; tropecei pelo caminho muitas vezes; fui ferido e feri como os espinhos da laranjeira. Derrubei muitos ovos pelo caminho, mas também apreciei vários.
A verdade é que nem sempre houve um pomar pelo caminho até os ovos. Caminhos esses que muitas vezes se tornaram labirintos sem fim ou atalhos que levavam a lugar algum. Ou caminhos de terra dura e muito pó e suor que trouxeram conquistas de encher a cesta de ovos. Pelo caminho, encontrei quem me oferecesse laranjas doces, mas encontrei quem cortasse as árvores. No caminho, fui surpreendido com amores escondidos pelas árvores e cheios da luz do sol. Pelo caminho, perdi gente querida; parei na metade e voltei atrás algumas vezes; outras, insisti por um caminho errado.
Os anos se passaram e hoje eu penso que o tempo todo na vida eu estive buscando os ovos no galinheiro. E tenho que buscar muitos ovos ainda. A diferença é que nem sempre houve um pomar pelo caminho.
Hoje não tenho mais a minha mãe para pedir que eu busque os ovos no fundo do quintal. O que eu sei é que hoje, após tantos ovos colhidos, quebrados, perdidos ou saboreados, o que eu mais quero é reencontrar o caminho daquele pomar, caminho tão mais simples que me levava aos ovos que preciso.
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